Textos sem pé nem cabeça #32

Flávia Six
2 min readMar 4, 2021

Eu gosto de gostar, acho muito mais divertido que desgostar. Sempre fui passional, quando era pequena, me viciava em tudo. Disney, trilogias, boybands. Eu lia fanfics interminavelmente, às vezes imprimia páginas pra poder ler durante a aula. Era minha alegria. Tive Twitter temático de bandas e era a maior fã de Harry Potter. Sempre gostei de ter coisas para gostar. Mas talvez eu tenha refinado o paladar, escondi meu fanatismo em nomes mais nobres. Vocês sabem. Faz um ano que conheci Herberto Helder, e eu nunca, paro, de, falar, dele. As pessoas não aguentam mais me ouvir. E a Hilda Hilst que me perdoe, mas HH já não diz respeito a ela. Talvez eu seja a mesma e só tenha mudado o foco. Mas, sinceramente, gostar é tão bom. Você encontra pessoas e descobre os fandoms, fico feliz por ter vivenciado isso: eu arrepiava, amava, sofria e ficava votando em programas de música e televisão. Às vezes não me reconheço quando olho pra trás. Mas, quem sabe, se Herberto Helder participasse de um programa desses, eu não ia ser a pessoa a fazer mutirões de votação. A intensidade se mantém, talvez seja hoje a questão de ser mais minha. Porque quando o leio, eu choro. Sinto muito. O que me faz lembrar das fanfics, que me faziam chorar também. Apesar do abismo entre a qualidade literária de cada um, os dois me levaram pra um mesmo lugar. Ai, ai, ai. Olho atrás e nem sei, não consigo enxergar a linha entre a pessoa que eu fui e a pessoa que sou, o que eu gostava e o que gosto. Como cheguei aqui? Uma parte de mim se envergonha, mas repreendo porque não tem por quê. Foi bom e fez bem. Acho que cresci na minha meninice de gostar apaixonadamente das coisas. Acho que sou apaixonadamente das coisas. Não sou parcial, ou metade, sinto que pra mim é tudo. Pode ser um pouco cansativa a intensidade imensa, mas é bonito fazer tudo grande dentro de mim. Parecem bolhas. Como se meu todo reagisse, o interior feito sensível àquilo que me acessa. E posso selecionar demais o que me acessa, mas, uma vez dentro, é tipo pinball. Sai batendo minhas paredes sem cansar, tomando impulso toda vez que toca. Será que procurando saída? Será claustrofobia? Essa batida me balança de um jeito gostoso, eu sinto o meio energizado, frenético com a fricção e o calor do movimento. Espero ser boa casa para as coisas que ficam.

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